segunda-feira, novembro 27, 2006

Máquinas

Tinha uma excelente máquina digital com a qual tirava fotografias como esta. Claro que o mérito não era meu, mas da paisagem – belíssima - e da máquina - óptima.
Tirei umas quantas fotos todas elas belíssimas até que um dia a máquina se finou… não, não morreu de morte natural. Morreu às mãos do Julito, um jovem montanhês curioso que resolveu manusear a máquina até que lhe provocou um ataque e a máquina se foi de morte súbita.
Substitui a máquina por outra mais simples. Mas ela, coitada, não morreu mas jaz adormecida na gaveta à espera de que haja calma suficiente para que eu possa experimentá-la convenientemente.
Agora, não me atrevo, não vá surgir um louco que a mate com uma pedrada. Bem, antes a máquina que eu, é verdade. Mas, máquina ou eu, o melhor mesmo é não provocar ninguém! É que aqui, em Timor, nos dias que correm, até tirar fotografias pode ser considerado uma provocação!

domingo, novembro 26, 2006

As minhas amigas são assim…



Ontem, depois de postar, pensei cá para os meus botões que haveria alguém que não iria perdoar-me o facto de não ter citado o nome dela… Aí, esquecendo o boi estúpido ( para mim, já que a Ivone o acha admirador de qualquer coisa…), dei comigo a pensar: macacos me mordam se…
Pois, olhem só a sorte! Ainda bem que não tenho macacos em casa! (Ora bolas, porque não hei-de eu ter esses poderes de adivinhação com o euromilhões?)
Então, não é que acertei em cheio? A minha queridíssima amiga Anabela ficou sentida, claro! Pois se foi ela que me sugeriu mostrar aqui um quadro (mesmo inacabado) da minha irmã pintora!
Não, Belita, não te esqueci; juro por “Deus, Terra, Cruz, Bandeira” (Maromak, Rai, Cruz, Bandeira), como se dizia quando eu era garota! Nããããão te esqueciiiiiii! Verdaaaaade!
Mas lá que a Ivone percebe mais de pintura do que nós as duas, lá isso…
Bom, mas tenho de me redimir que não quero ser a responsável de uma subida de tensão da minha amiga Anabela!
E por isso a foto de hoje com orquídeas do jardim da pintora é só para ela!
Ai, como isto me faz ter saudades das conversas olhos nos olhos, contando, ouvindo, rindo ou mesmo chorando, com as minhas amigas!
Beijinhos, amigas!

Um quadro da Gabriela

A minha irmã pintora-jornalista mandou-me uma foto de um quadro que a minha irmã Natália tem em sua casa. O quadro é lindo. Gosto do rosto das mulheres, das cores. A foto, disse-me a Gabriela, adulterou-lhe as cores. Pode até ser mas eu, que sou uma ignorante, embora defronte de uma pintura não fique tão estúpida como um boi a olhar para um palácio, só consigo achá-lo bonito e não vejo cor nenhuma adulterada!
É boa! Depois de ter escrito sobre o boi a olhar para o palácio, presumi de imediato – ah, o meu poder de adivinhação! - que a minha amiga Ivone Ralha está a rir-se do que eu disse.
Pois é, Ivonita querida, há uma diferençazita: é que eu tenho consciência da minha ignorância e sei que não percebo patavina de pintura. Ou gosto ou não gosto. Ou é bonito, ou é feio… Mas o boi, coitado, olha, apenas…
Concordas comigo?
Já estás na gargalhada! Que bom!

quarta-feira, novembro 22, 2006


Já la foi o tempo em que saíamos para passear e íamos até à fronteira com o Timor indonésio. Nessa altura, pensávamos que o perigo estava todo do outro lado da linha. Afinal... enganámo-nos redondamente. E, dói, como dói! Oh, se dói e como me envergonha tanta loucura!

segunda-feira, novembro 20, 2006

Mataram um timorense que queria a reconciliação. Mataram um brasileiro que trabalhava para difundir a sua fé. Morreram em nome de coisa nenhuma.
Não bastando isto, soube que, num acidente de viação, talvez devido ao mau estado das estradas, morreu o pai de menina ( cuja fotografia aparece nos primeiros posts) e de mais outros cinco meninos pequenos.
É muita tristeza para um dia só!

Até amanhã.

domingo, novembro 19, 2006

A minha irmã Gabriela

Podia responder em comentário ao Maracujá Maduro mas senti-me tão orgulhosa pela minha irmã Gabriela e ao mesmo tão sensibilizada por reconhecer o seu valor que não resisto a responder em post especial.
Porque não escreve mais vezes e conta as suas histórias de Timor? Só iria enriquecer o blogue.
Tal como eu e a minha irmã mais nova, a Natália, a Gabriela também não sabe nadar. É uma vergonha, mas é assim…
Mas a Gabriela é uma artista e, como todos os artistas, sensibilidade e imaginação não lhe faltam. Por isso, as obras dela são tão cheias de cor, de matizes e de muita, imensa imaginação. E, claro, de bastante trabalho.
Aquele belo quadro que está na recepção do hotel Timor e que versa sobre a criação de Timor, exige do observador muita atenção e um profundo conhecimento da alma timorense. Num labiríntica e emaranhada sucessão de cor e de figuras, vêem-se um crocodilo, disfarçado nele uma casa e nesta, uma mulher, uma criança, uma árvore… Tudo quanto se refira à criação e ao imaginário timorense está lá, desenrolando-se, ligando-se em perfeita sintonia, em cada pedaço de tela.
Aliás, o mesmo acontece nos quadros que estão na Fundação Oriente.
Os duendes da minha infância também são os da infância dela e, naquele quadro da sala de entrada da Fundação, nós somos as mulheres em convívio com o duende… E sobre duendes, muito escreveu a Gabriela num livro que há-de ser um dia publicado! Nessas histórias pode-se compreender melhor o que está por detrás da arte da minha irmã pintora.
Tenho pena que livro e pintura estejam um bocado postos de lado na gestão que ela faz da sua vida. É que como o Maracujá bem sabe, ela é também jornalista e tem um cargo directivo na SBS e isso ocupa-lhe demasiado tempo.
Reconhecendo nela uma excelente profissional de Rádio e Televisão e compreendendo embora as suas razões, tenho contudo pena que se esteja a perder uma artista de mão cheia!
Também tenho muita pena que Timor-Leste não a tenha querido aproveitar na Comunicação Social e que não dê importância ao seu valor. Mas isso, Maracujá, já tem outras implicações que nos escapam!

sábado, novembro 18, 2006

Mar azul


Esta curva de estrada à beira-mar leva-nos, entre outros destinos, a Liquiçá, Fazenda Algarve, Ermera, Bazar-Tete, Bobonaro, Suai e também ao Timor indonésio. O caminho é todo assim recortado, junto ao mar, passando por algumas salinas e muitos mangais. A paisagem é deslumbrante.
Hoje, apesar dos buracos, ainda se pode dizer que é uma estrada alcatroada. Mas, há quarenta anos, era de terra batida, poeirenta e a viagem para Liquiçá que hoje se faz em meia hora, fazia-se em mais de hora e meia.
Quando eu era miúda ia muitas vezes para a Fazenda Algarve com o meu pai. Numa dessas vezes, ia connosco um grande amigo, o senhor Mário Graça, que era escrivão, casado com a D. Alice e pai do Manano, Nené e Nelito e que hoje vivem em Moçambique.
O meu pai era muito prático, muito terra à terra. O senhor Mário Graça era mais sonhador, mais poeta. Prático e poeta, ambos casaram por amor com as suas respectivas mulheres tendo protagonizado cada um deles uma bela história de amor.
A propósito do tempo gasto na viagem, o meu pai, em conversa com o o amigo, disse-lhe que o Governo estava a pensar encurtar o trajecto, construindo uma nova estrada pela montanha. Ganhavam-se alguns quilómetros. O senhor Graça contrapôs logo que era uma pena, que se perdia a paisagem. Retorquiu-lhe o meu pai que a paisagem podia continuar a ser vista lá de cima.
Não liguei muito. E também não tem imporatância nenhuma porque não se construiru nenhuma estrada nova e tudo se manteve igual. Mas, lá de cima ou junto ao mar, o caminho continua a ser deslumbrante... Tinham os dois razão!


sexta-feira, novembro 17, 2006


Tenho pena de não saber nadar. Não que tivesse tido alguma vez a ambição de ser campeã de natação.. Mas gostava de poder ver o fundo do mar e, para isso, só mesmo sabendo nadar...
É de bom tom esclarecer a autoria da fotografia
do "nudibrânquio" - de acordo com a legenda - que tomei a liberdade de vos oferecer. . Foi-me enviada pelo Mário Ventim, um professor universitário que costuma vir a Timor dar aulas integrado no projecto da FUP, a Fundação das Universidades Portuguesas ( este ano ainda não veio...) e que, tal como a Marta Chantal, adora mergulhar. aqui vai um abraço para ambos.
Dizem eles que o mar de Timor é um espectáculo... Pela foto, quem pode pôr em dúvida?

quarta-feira, novembro 15, 2006

Recordações


A minha irmã Gabriela escreveu as suas memórias sobre a nossa infância e a nossa convivência com os duendes da montanha.
Foi há muito tempo, mas nós ainda hoje nos lembramos muito bem do seu aspecto físico e das suas brincadeiras. Tal como também nos lembramos que nesta curva de estrada costumávamos vê-los por detrás das árvores...
Ai, que saudades da minha infância!

sábado, novembro 11, 2006

Descansar o olhar


Vou a uma festa de casamento que a crise obriga seja durante o dia.
A crise, sempre ela, a senhora dona crise, é quem manda em todos nós. Somos os seus escravos. E nem sabemos quando vai teminar o seu reinado !
Por enquanto, vamos descansando o olhar neste pedaço de azul de céu e de mar... no ecrã do computador porque ir ao sítio... Sabe-se lá até quando o poderemos fazer!

quinta-feira, novembro 09, 2006


Crianças do Suai.
Como estarão elas?

Qual vai ser o seu futuro?
Ai, a loucura dos homens!

Deixem que solte um profundo suspiro!


Gosto muito do mar azul mas faz-me falta o verde destas montanhas!
Sem paisagem de montanha, sem ar puro, sem verdes, sem pássaros multicores cantando de forma diversa, sem madres-del-cacau, e, quase me apetece dizer, sem mim… sinto-me com um peixe fora de água! Deixei de ter qualidade de vida!
E ainda por cima nem sei quando poderei andar à vontade por esses caminhos de paisagem tão deslumbrante!
A vida é assim, uns fazem asneiras mas todos pagam por elas! Bem, nem vale a pena praguejar. Não resolvo nada com isso, sei. Mas, ao menos, deixem que solte um profundo suspiro. Ai!
Pronto, fiquei mais calma!

terça-feira, novembro 07, 2006

Sandra Sofia


Num ataque fortíssimo de saudade, no dia em que a Sandra Sofia faria 36 anos, quase morro dessa imensa saudade! Envio um beijo à minha filha que o receberá onde quer que esteja! E partilho um excerto de um escrito de outro momento de saudade atroz num igual dia 7 de Novembro..

O céu estava azul,

A pomba branca abandonou a sala escura. Bateu as asas um bocado assustada com a liberdade que lhe surgia assim, de repente, do nada…sem nada nem ninguém a persegui-la... e voou… voou rumo ao Infinito; afastou-se da pequenez da vida e do inferno em que se tornara a sua vida na terra.

Um último olhar para trás, transformou-se num pontinho minúsculo na imensidão daquele azul do céu; o ar límpido era apenas cortado por uma brisa suave e fria que soprava naquela manhã de Inverno. E ela partira para muito longe…

Até um dia, Sandra Sofia!

&&&

Morena, pele dourada, cabelos e olhos castanhos claros, boca carnuda e uma arte de sedução inigualável, assim era a Sandra Sofia. Era e ainda é; na minha memória, ela continua viva.

Partiu numa madrugada fria, de Fevereiro. Mal respirava quando, à noite, a deixei no hospital, mesmo depois de aumentada a potência do oxigénio. Não sei se fugi, porque não quis acreditar que o fim da minha filha se aproximava e cobardemente saí, não sei se não quis aceitar aquilo que deveria estar a entrar-me pelos olhos dentro que era o fim da sua vida a aproximar-se. Não sei se descria que, afinal, a morte também a podia atingir. Aliás, não me contara ela um dia que se sentia imortal?
… …. …

Tocou o telefone eram 7 horas da manhã. Adivinhei que ela tinha partido.
O Céu escureceu pela certa e o Mundo passou a ser outro. Estava vazio! A minha vida perdeu o sentido. Pensei que bem podia ter partido com ela! Afinal, que me restava depois de ter perdido a razão de ser da minha vida durante 24 anos, precisamente os que ela vivera?

Sonho com ela, vejo-a voando alto, segura e leve, adivinho-a a sorrir, serena, com os seus cabelos castanhos dourados ao vento e sei que um dia, não sei quando, mas um dia certamente tranquilo, direi adeus à saudade, direi adeus à dor porque vou voltar a vê-la, vou agarrar-lhe na mão, vou, vou...

Oh, Sandra Sofia, minha Filha!


quarta-feira, novembro 01, 2006

Olá, pessoal!


Voltei!

E trago-vos esta bela foto da Ponta Leste. De um lado está a ponta da ilha de Timor, a praia de Tutuala. Do outro lado do mar, vislumbra-se o ilhéu do Jaco, lindo, de morrer!

O clima por aqui continua quente. Não deixa tempo nem disposição para se escrever com tranquilidade. Aliás, tudo quanto se diga está relacionado com a crise… E isso não quero fazer aqui. Porque prefiro que este canto seja o sítio de um outro Timor que tem mais a ver comigo do que este, de 2006.